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Amar é Revolução!

     Revolução é uma mudança radical à ordem pré-existente e nesse sentido o amor é extremamente potente, já que traz como característica sua força desestabilizadora dos ideais. Para amar precisamos nos expor à alteridade do outro e a extrema diferença, isso é o que o difere das paixões que tem como base a pura identificação. No amor a gente se surpreende com o furo, com a quebra do outro idealizado, e ao invés da queda do desejo surge um laço forte e duradouro onde a admiração deixa o lugar da perfeição e começa a contemplar a assimetria, a heterogeneidade, a diferença radical que o outro carrega. 

     Mas para falar de Revolução e de amor precisamos falar de gênero, e podemos começar por nos perguntar por que nos limitamos tanto? O gênero é uma performatividade pré estabelecida pela cultura na qual aderimos em prol do reconhecimento social e que tem como ponto de partida nosso órgão sexual. Desde que nascemos somos empurrados a encenar os papéis que a sociedade estabelece – nós mulheres por exemplo, temos nossas orelhas furadas antes mesmo de sabermos andar… Todos os signos que nos ancoramos durante nosso crescimento nos são oferecidos com base em atributos de uma performance pré definida por outros. Então chega a pergunta: O que é ser uma mulher? O que é ser um homem? O que preciso excluir para que eu me encaixe em uma forma que possa ser reconhecida?

     De acordo com a história de vida de cada um, suas influências e sua percepção do mundo o gênero será perfomatizado, com esses elementos, à sua maneira. Só que assim como toda performance, existe no gênero uma plasticidade. E essa plasticidade é o furo, que demostra a todo o instante a impossibilidade de um conceito ser capaz de dar conta de nomear algo comum entre dois sujeitos ou mais que seja suficiente para dar-lhes uma mesma forma. Hoje, à partir dessa percepção estamos envoltos a várias formas de nomear grupos em prol de um reconhecimento que é feito à partir de algo em comum, mas será que não devemos nos perguntar sobre quando começaremos a reconhecer a diferença?

     Um sistema binário é extremamente limitador, nos faz estar aquém de nós mesmos. Repensar o conceito de liberdade comporta começar a abrir esse lugar para mais diversidade, rumo à um universo onde a própria ideia de um conceito de gênero não nos caiba mais… 

     “Hetero” é um radical de origem grega que traz o significado de outro, de diferente. As palavras compostas por este radical remetem ao que é desigual, diverso e não semelhante. É neste sentido que afirmava Lacan, que a heterossexualidade não poderia ser redutível à um dado de anatomia, já que heterossexual é aquele que sabe amar o outro na sua diferença. Condição vital ao amor. 

     O amor tentou há muito encontrar garantias mas deveria ter se arriscado mais no vazio. Não somos onipotentes e o amor tampouco o é, somos frágeis e assim como nós o amor também perece. Então o que nos traz a beleza é justamente sustentar a nossa falibilidade e nos alegrar com nosso eterno devir, nossa eterna descoberta. E sem duvidas essa jornada compartilhada é a única direção possível. Preciso que o outro me mostre um novo mundo, me mostre justamente que o meu mundo não é o único possível. Mas esse Real, esse vazio que é o desconhecido assusta pra caramba! É verdade!  Mas não podemos negar a potência do novo, de algo que parte de um não saber rumo à um lugar totalmente desconhecido…

     É no vazio que está a nossa potência de criação!

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Karol Saldanha
Artista co-criadora do Impermanência

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