Em meio esta assombrosa pandemia de covid-19 que já matou 585 mil pessoas, tomar a vacina e usar máscara de prevenção de contágio é participar de um pacto social pela preservação de vidas. Eu sou vacinado e uso a máscara para me proteger e para resguardar os outros da proliferação do vírus. Mas esta proteção só pode ser eficiente se os outros ao qual eu me exponho fizerem o mesmo.
Entretanto o descaso do governo Bolsonaro aos procedimentos de prevenção da covid-19 somados a seus discursos de produção de desconfiança a respeito das vacinas criaram um cenário macabro onde uma postura negligente foi estimulada. Muitas pessoas passaram a encenar o cidadão destemido, afinal, se trata apenas de uma “gripezinha”. O comportamento preventivo se tornou coisa de “maricas”. Coloco entre aspas as palavras do presidente Bolsonaro que evocam o negacionismo e a homofobia em sua forma de governar.
Nas ruas tive de lidar com pessoas cuspindo e tossindo propositalmente em minha direção enquanto aceleravam seus carros me provocando por eu estar caminhando na calçada de máscara. Covardes agem dessa maneira. Eles te atacam pelas costas porque não sustentam um diálogo.
Não podemos esquecer que o governo Bolsonaro ignorou 53 emails da Pfizer disposta a negociar seus imunizantes com o governo brasileiro. Paralelo a isto o governo gastou quase 90 milhões de reais com a compra de medicamentos sem eficácia comprovada. Desde março de 2020, o presidente Jair Bolsonaro já vinha defendendo o uso da cloroquina apesar dos alertas dos cientistas sobre a ineficácia no tratamento contra covid-19. Escancarando o descompromisso do governo com o combate a pandemia. Descompromisso com a vida.
A média móvel de mortes por covid-19 está em queda desde o início da vacinação provando a efetividade dos imunizantes em diminuir o estrago desse vírus sinistro. Porém a pandemia ainda não está controlada, a lentidão da aplicação da vacina em grande parte da população favoreceu o desenvolvimento de variantes como a Delta. Portanto precisamos manter todos os procedimentos possíveis de segurança. Usar máscara de proteção, limpar bem as mãos e o ante-braço com alcool gél ou água com sabão são formas de higienização para evitar o contágio. Manter o distanciamento social sempre que possível e tomar as duas doses da vacina. São atitudes que contribuem para o corpo social, esse espaço compartilhado em que vivemos e do qual somos parte integrante.
Uma questão ética está em jogo. Entre responsabilidade e avacalhação. Entre cuidado e desdém. Entre solidariedade e indiferença… Qual caminho escolher? Precisamos transcender o prazer próprio quando o que está em questão são vidas.
Os mascarados e os desmascarados co-habitam um mesmo espaço social. Todos se cruzam nas ruas. Todos se implicam. Eis que surge a questão: até onde se extende os limites do meu corpo e o do outro quando estamos perpassados pelo mesmo ar que respiramos? Esse mesmo ar compartilhado que preenche nossos pulmões nos contaminando… A pandemia nos revelou: através do ar estamos todos implicados e conectados.
A mesma lógica de implicação mútua é aplicável a longas distâncias. A queima da floresta amazônica, implica na camada de ozônio que envolve a todos dos planeta. Estamos todos inevitavelmente interconectados. A ciência já provou que um indivíduo não possui a mesma força de sobrevivência de uma comunidade, mas para isso é preciso cooperação mútua!